quarta-feira, 2 de março de 2011

0 JORNADA ATACAMA - DIA 13

Dia 13 : 02.03.2011
Etapa III - Fiambala-AR a Copiapó-CH
Distância Percorrida : Asfalto :225 km Cascalho:290km Total :515km
O grande dia tinha chegado, hoje iriamos atravessar pela segunda vez a Cordilheira dos Andes, mas desta vez com um longo trecho de cascalho.
Quando me levantei ainda estava amanhecendo, cerca de 6:30h, aproveitei que havia uma torneira proxima  e limpei as motos que estavam um "pouco" sujas com a lama dos ultimos "badenes".
Só agora com a luz do sol foi possível ver onde estavamos.
"Nossa" Pousada em Fiambala
Uma casa cor laranja, será já esperando nossas KTM's!!!, em um bairro tranquilo de Fiambala.
Michael ainda estava dormindo e eu já estava pronto para seguir para o grande desafio do dia , atravessar o Paso San Francisco a 4726 metros de altitude, e depois acelerar por 290km em estrada de cascalho no Chile, até Copiapó.
Acho que fiz tanto barulho que Michael acordou e rapidamente arrumamos a bagagem em nossos bikes e fomos direto para o restaurante da Pousada Municipal tomar o  café da manhã, que tinha que ser reforçado, pois hoje não teríamos almoço pelo caminho.
No café da manhã ainda batemos um papo com dois argentinos tecnicos da Iveco, que fabrica caminhões pesados no Brasil, que estavam ali para fazer testes  de motores em altitudes elevadas. Perguntamos sobre as condições da estrada até o Paso e eles disseram serem excelentes e que não estava muito frio.
Como iriamos subir aos 4700 metros, pedimos ao galçon para nos preparar o "milagroso" chá de folhas de coca.

Antes de seguirmos para a Ruta 60, ainda passamos pela Pousada Santa Rita, onde deixamos as chaves da casa onde haviamos dormido; o alemão já tinha ido embora também.
A Ruta 60 era muito boa, parecia ser nova e era bem sinalizada. Retas com leves ondulações e curvas  faziam o trecho muito divertido para nossas KTMs.

 
A medida que iamos subindo o cenário se transformava em um painel multi colorido, parecido com o que tinhamos visto na Quebrada Cafayate. Montanhas vermelhas, verdes, cinzas começavam  a mostrar toda sua beleza e grandeza. A subida era bastante tranquila,nesse trecho saímos de Fiambala a 1500 metros de altitude para chegar a 4726 metros na fronteira da Argentina com Chile depois de 200 quilometros, mas a cada parada para fotos tomavamos uma dose do chá  para não termos problema no trecho acima de 4000 metros que iriamos enfrentar depois da fronteira.


Já tinhamos rodado 100 quilometros e o cenário mudou completamente, agora a altitude era de 3000 metros e as montanhas tinham contornos bem suaves e com vegetação rasteira e bem dispesa. As vezes aparecia um agromerado verde mais intenso provavelmente devido a presença de agua.

Chegamos á região onde estava o Hotel de Cortaderas, onde Borges o carioca que encontramos em Cafayate, havia pernoitado. Paramos para conhecer, era realmente muito bonito. Instalações muito amplas com todo o conforto. Descobrimos que havia sido inaugurado no inicio do ano, algumas semanas antes do Paris Dakar passar por ali.
 

Seguimos em frente, agora o frio já incomodava um pouco, mas nada que um pouco mais de roupa não resolvesse.
Continuavamos subindo de forma bem gradual, não sentimos nenhum mal estar, o chá de folha de coca se mostrava mais uma vez eficiente.
Agora começava a aparecer área verdes maiores, e nelas animais, os primeiros a aparecer foram guanacos jumentos.

E tudo isso emoldurado por montanhas que se coloriam de uma mescla de cinza, amarelo e branco.
Nós éramos realmente privilegiados em poder estar ali contemplando tudo aquilo, fazendo parte daquilo tudo.
Era difícil manter-se na pista acelerando nossas KTMs, a cada curva um novo cenário de abria com belezas de tirar o folego, e não por falta de oxigenio não.
Agora estavamos em um trecho que a vegetação era amarela e as montanhas mais altas ja apresentavam seus cumes branco cobertos pela neve., só vendo.
 


Já  estavamos acima dos 4000 metros de altitude e qualquer exercício um pouco mais intenso era suficiente para sentirmos as pernas pesadas e dificuldades para respirar e se mover. Mas um pouco de descanso e um pouco de chá  para tudo voltar ao normal.
 Nesse trecho encontramos muitos "refugios",eram pequenas cabanas construidas ao lado da estrada para servir a quem estivesse em dificuldades. Entramos numa para ver como eram. Tinha uma lareira com lenha, uma blusa de lã, uma garrafa de agua e um botão de alarme, que se comunicava com uma central.

Seguimos acelerando nossas KTMs,  aquilo tudo era realmente indescritível, a grandeza e beleza nos fazia sentir como se estivessemos  dentro de um filme.
No meio de tudo isso acabamos chegando ao posto de controle da imigração argentina, bastante simples mas de oficiais muito amistosos e prestativos.
As motos acabaram virando atração de argentinos e chilenos que tambem estavam ali de passagem.Muitas fotos ao lados de nossas bikes como "recuerdos" foram tiradas e no final até os policiais argentinos se animaram e tiraram fotos junto com as motos.Acabamos até ganhando uma garrafa de vinho de dois argentinos que estavam viajando de caminhonetes pelo Chile e agora retornavam para a Argentina. Atendidas todas as formalidades e com alerta dos policiais para tomarmos cuidado no trecho chileno de cascalho, pois existiam trechos  em que maquinas estavam reparando a estrada e as condições da pista eram ruins.

Chuva proximo Paso San Francisco
Mais alguns poucos quilometros  e o tempo começou a mudar, sinais de chuva a frente já eram visíveis. Não era o que gostaríamos de encontrar principalmente agora, nessa altitude e proximos do trecho de cascalho, mas tudo bem! estavamos preparados. Começou a chover não muito  forte, mas com o frio o desconforto era grande. Alem da chuva uma forte neblina caiu sobre nós, dificultando ainda mais nossa pilotagem, ainda bem que a pista era bem sinalizada, mas já estavamos bastante preocupados de como ficaria o trecho de cascalho caso essa chuva continuasse. Mas no meio de tudo isso acabamos recebendo um presente espetacular, inimaginável, começou a NEVAR, isso mesmo nevar exatamente quando chegamos  na fronteira Argentina - Chile. Não era muita neve mas suficiente para a gente não sentír mais o  frio ou se preocupar com o trecho de cascalho , nada, era só alegria. Isso merecia uma parada para curtirmos aquele momento.

 Foi nesse clima que deixamos a Argentina e entramos no Chile. Agora tinhamos pela frente 290 km descendo a Cordilheira do Andes dos 4700 metros de altitude até  400 metro em Copiapó.
Ainda sob muita neblina começanos nossa jornada. As condições eram boas, a estrada bem larga com cascalho grosso mas bem distribuido, dava para acelerar bem nossas bikes que como sempre se mostravam muito estaveis e seguras nesse tipo de piso.
Aos poucos o tempo foi se abrindo e novamente um cenário de tirar o folego começou a descortinar-se a nossa frente.
Agora, a estrada de cascalho em descida, contornava montanhas cobertas de neve com lagos ora azuis ora verdes que apareciam "milagrosamente" ao lado da pista. Era impossível não parar para poder contemplar vagarosamente tudo aquilo. A tranquilidade do lugar, uma brisa suave e refrescante criavam um clima muito especial, de muita paz.
Encontramos os trecho onde existiam maquinas trabalhando na pista e alguns desvios com areia e cascalho mais solto faziam a pilotagem um pouco mais difícil, mas as KTMs encaravam tudo semnenhum problema, era só acelerar e elas passavam por cima de tudo d uma maneira inacreditável, para elas era tudo "asfalto".
Agora a paisagem era árida, quase nenhuma vegetação, muito cinza e marrom predominavam no horizonte. Mas de novo o milagre da agua se fazia presente, pequenos vales onde aparecia um pequeno curso de agua em alguns vales era suficiente para criar aqueles "oasis" que já tinhamos visto do lado argentino. Embora não estivesse chovendo mais, esta muito frio, sentimos falta de manopla aquecida, pois no corpo segunda pele, jaqueta e calça resolviam o problema, mas nas mãos, principalmente a ponta dos dedos as luvas de inverno não eram suficientes.

 Nesse trecho passamos ao lado da segunda montanha  mais alta da Cordilheira dos Andes, o vulcão Ojos del Salado, com 6893 metros de altitude, ele estava quase todo nevado e sua figura se impunha entre as montanhas.
É o segundo, pois o primeiro é o Aconcagua com 6962 metros e fica do lado Argentino.Um pouco mais a frente, quando estavamos parados para umas fotos, que cruzamoscom um grupo de jipões que acabaram parando para um rapido bate-papo,quando o Michael fez um cumprimento em alemão. Eram familias de alemães, indo escalar o Ojo del Salado e pelo que
pudemos ver nos jipões e caminhonetes estavam preparados para tudo, tinham pequenas motos e muito equipamento.
Mais uns quilometros e o trecho de descida mais ingreme  deu lugar planicie dentro de um grande vale. O tempo aqui ainda estava fechado e uma chuva fina voltou a nos incomodar, por sorte a estrada de cascalho era muito boa e poucas poças se formavam. Mas o difícil era enxergar, pois com a chuva e o frio a viseira ficava sempre embassada e aberta, cada gota de chuva doía muito quando batia no rosto. Vamos em frente a proxima parada era na alfandega chilena, o chamando "Complejo Fronteirizo de San Francisco! que não chegava, mesmo acelerando com vontade nossas bikes. Finalmente chegamos, não sem antes ter que encarar um pequeno trecho logo antes da alfandega, onde maquinas tinha colocado terra fofa, em cima do chão duro e que com a chuva se tornou em um barro liso e escorregadio, as bikes dançaram muito mas de novo mostraram por que são as melhores off road.
Formalidades da imigração e aduana chilena novamente e tudo ia bem até o oficial da secretaria de agricultura encontrar um pequeno souvenir que o Michael havia comprado no Museu de Pachamana. Eram um pequeno cactus feito de madeira, o que não era permitido pois segundo o inspetor poderia trazer pragas  para o Chile. Ainda tivemos que pedir desculpas por não tê-lo declarado no formulario para não ter que pagar multa, conforme previsto e destacado em vários cartazes espalhados pela aduana.
Bom estavamos a 180 quilometros de nosso destino e já passavam das 16:00horas, tinhamos que acelelar para chegar aindo com luz do sol em Copiapó.
Alguns quilometros depois da alfandega chilena num entrocamento seguimos pela Ruta 31. Agora era tudo puro deserto e novamente encaramos longo trecho em descida muito ingreme. Em 70 quilometros descemos mais de 2200 metros em um trecho chamado Quebrada de San Andrés. Desciamos ziguezagueando entre montanhas por trilhas estreitas nas encostas das montanhas nuas, sem vegetação alguma, estavamos de volta ao Deserto do Atacama.
 


Estava tudo espetacular, agora sem frio e chuva pilotar nossas KTMs por aqui era o que estavamos buscando. O Trecho em descido terminou faltando um 80 quilometros para chegar a Copiapó. Entramos num grande vale e a pista mudou de terra e cascalho para um tipo de cascalho bem duro e estabilizado com terra e sal. Aqui ja começamos a ver sinais de "civilização", cruzamos com alguns carros e já se podia ver tambem algumas contruções, minas, torres de transmissão de energia eletrica e em algumas areas verdes cavalos pastando tranquilamente.
A estrada era como asfalto, em sexta marcha era só acelerar e sentir o sabor do vento assobiando, o resto nossas bikes se encarregavam de fazer. 
Andamos uns 50 km e já proximo a Copiapó passamos novamente por uma região montanhosa com as rochas de um colorido rocho e um pouco de vegetação verde brotando entre as pedras.
Já eram cerca de 7:30h e o dia ainda bem claro, chegariamos a Copiapó com luz do sol tranquilamente.
Chegamos a Copiapó, uma cidade agitada, transito de carros e caminhos muito intenso. Se via que se tratava de uma cidade insdustrial, na realidade tudo girava em torno da mineração.
Só para lembrar, Copiapó foi palco de um acidengte que ficou no noticiário internacional por cerca de três meses no final do ano passado. Foi aqui que 33 mineiros ficaram presos em uma mina de cobre, depois de um desmoronamento. Foram resgatados 69 dias depois com lances cinematográficos.
Abastecemos nossas bikes antes de sair em busca de um hotel. Nosso amigo Borges nos havia recomendado um chamado "La Casona", é verdade no Brasil esse nome daria margens interpretações sobre o local. Bueno não era lá grande coisa, mas estavamos muito cansados, sujos e loucos por um banho, decidimos ficar por alí mesmo.
Um jantar regado a nossa velha cerveja Kunstmann em um restaurante tipico de Copiapó encerrou nossas atividades desse dia antes de cairmos na cama mortos de cansado mas com um sorriso de orelha a orelha, mais um trecho espetacular, muito alem de nossas espectativas.





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